luawashere
4 min readJul 2, 2021

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O dia que o sol atravessou o universo por um brilho maior que todas as estrelas que vejo do meu céu.

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De onde venho, é sempre manhã.

O sol ilumina os meus olhos a cada minuto que o observo dançar em meio a escuridão, sem pausas ou tropeços durante uma translação sem fim, sob a luz de uma platéia infinita de estrelas que assistem ao palco com o mesmo brilho e vigor de todos os dias.

O toca fitas tem a cor do céu no raiar do dia, sob um tom que está em algum lugar entre o azul intenso e o amarelo eufórico, enquanto a atmosfera flui delicadamente entre o dia e a noite. Embora a playlist mude de acordo aos tons do suspiro que a Terra dá, de algum lugar escuto sempre tocar Gymnopédie no. 3, no mesmo volume que só é possível escutar quando o mundo se cala e nada mais escuto além da minha respiração e das lágrimas que correm o meu rosto.

Mas embora o universo seja infinito e perpetue por segundos sem fim, há um momento em que a música para de tocar. As Estrelas continuam a dançar, mas dessa vez de um ângulo que não mais alcançam os meus olhos. E eu me vejo repleto de escuridão e sussurros que gritam na minha mente todas as palavras de desespero construídas no seio da humanidade.

Passam sob os meus olhos as cartas que levaram aos homens as notícias que findaram suas vidas, que correm acompanhadas das cartas de amor que vêm de todos os continentes que descansam no leito da Terra. Trechos de palavras rasgadas pelo tempo e das cartas de amores não respondidos que nunca receberam de volta a voz de quem as recebeu. Com algum esforço, é possível enxergar entre a noite e todas as cartas escritas sem destino ou que nunca foram enviadas, embora seus roteiros chamassem o nome de um outro alguém que nunca as escutaram.

Agora, a noite toma o espaço da manhã, absorve toda a sua luz com voracidade sem questionar e envolve os céus sobre um manto escuro como o mundo que vejo quando fecho meus olhos.

A Lua quando sobe ao palco vestida de luz e rendas que correm o chão, tem todos os focos voltados para si, rodeada pela visão de todas as estrelas que meus olhos alcançam e daquelas que viajaram o universo para que cada um de seus fótons pudesse chegar no espaço-tempo que se faz agora.

O brilho que envolve a Lua é tão intenso que nada mais se vê além da própria luz que cerca seu corpo. Sobre distâncias tão grandes, nenhum dos grandes planetas é capaz de enxergar as crateras que se formaram por trás das vestes de luz que dançam em sincronia com o satélite.

Cada um dos assentos do imenso teatro do universo está ocupado. Todos os olhares se encontram fixos naquela que tem o brilho maior que suas próprias dimensões.

E repleta de euforia, a Lua percorre seus olhos por cada um dos olhares que encontram os seus, entre todas as estrelas e cores que o cosmos pode oferecer, embora o rosto que procura, seja o único que não seus olhos não encontram.

A noite cessa, todas os astros se vão e surge no céu a única estrela que ousa não voltar-se ao céu durante os véus da noite que têm em si as músicas que tocam pela madrugada.

Mais uma vez, o Sol encontra as nuvens no céu e preenche o dia daqueles que tem o privilégio de vê-lo.

O toca fitas repete as mesmas músicas, esperando que um dia o Sol ouça o álbum que há séculos espera por alguns segundos em sincronia — eclipse.

O momento que percorreu todas as versões do infinito e deu ao universo um brilho que cessou depois de poucos segundos.

Então, é manhã novamente.

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luawashere

i don't want to describe myself. i'm chaos, pure.